Uma longa viagem ao comando de um carro de bois
Partimos da Vacariça de manhã cedo, eu, com cerca de 15 anos de idade, e um trabalhador um pouco mais […]
Partimos da Vacariça de manhã cedo, eu, com cerca de 15 anos de idade, e um trabalhador um pouco mais idoso. Tínhamos muito para andar a passo de bois, em estradas com mau piso e dando muitos solavancos; isto para lá, pois no regresso tínhamos de vir a pé, por não cabermos no carro que vinha carregado.
O nosso destino era a aldeia da Lapa, que fica a uns dois ou três quilómetros para lá de Ourentã. Fomos lá carregar palha de milho/faixas de bandeiras e restante palha ligada aos canoilos, que lá era mais barata e destinada à alimentação do gado.
O meu pai foi à frente de bicicleta pagar o pasto, que já estava comprado e ajudar a carrega-lo numa enorme carrada, que teve de ser bem amarrada com cordas.
Comia-se alguma coisa que levávamos e regressávamos à Vacariça, sendo a maior parte do percurso feita de noite, com um lampião de petróleo aceso, a altas horas da noite, cheios de sono, mas tínhamos de vir sempre atentos para não virar a carrada.
O carro, conforme vinha carregado, não dava um bocadinho de espaço para descansar um pouco e também não podíamos parar, senão nunca mais chegávamos. Sonhávamos era chegar a casa com a carrada direitinha e com a cama para dormir.
Os animais, coitados, suportavam tudo com enorme paciência, incluindo longos períodos sem comer e até as aguilhoadas que lhe dávamos para andar mais depressa. Eram animais maravilhosos, treinados para trabalhos pesados; raramente davam uma marradita, que, sem fazer mossa, nos fazia lembrar que não se deve bater em quem tanto fazia por nós. Tinham uma vida longa e recebiam sempre uma festinha no pescoço, quando se lhes levava alimento à manjedoira e que eles apreciavam levantando a cabeça para melhor os coçarmos.
Agora que não são precisos para trabalhos pesados, por terem sido substituídos pelos tratores, tem uma vida curta só com destino ao talho e perderam os carinhos que os garotos e alguns adultos lhes davam e que muito apreciavam.
É assim; mudam-se os tempos, «mudam-se as vontades».
Autor: Jornal Frontal
