Quinta-feira, 07 de Março de 2019

Uma longa viagem ao comando de um carro de bois

Uma longa viagem ao comando de um carro de bois

Opinião

Uma longa viagem ao comando de um carro de bois

Partimos da Vacariça de manhã cedo, eu, com cerca de 15 anos de idade, e um trabalhador um pouco mais […]

Partimos da Vacariça de manhã cedo, eu, com cerca de 15 anos de idade, e um trabalhador um pouco mais idoso. Tínhamos muito para andar a passo de bois, em estradas com mau piso e dando muitos solavancos; isto para lá, pois no regresso tínhamos de vir a pé, por não cabermos no carro que vinha carregado.

O nosso destino era a aldeia da Lapa, que fica a uns dois ou três quilómetros para lá de Ourentã. Fomos lá carregar palha de milho/faixas de bandeiras e restante palha ligada aos canoilos, que lá era mais barata e destinada à alimentação do gado.

O meu pai foi à frente de bicicleta pagar o pasto, que já estava comprado e ajudar a carrega-lo numa enorme carrada, que teve de ser bem amarrada com cordas.

Comia-se alguma coisa que levávamos e regressávamos à Vacariça, sendo a maior parte do percurso feita de noite, com um lampião de petróleo aceso, a altas horas da noite, cheios de sono, mas tínhamos de vir sempre atentos para não virar a carrada.

O carro, conforme vinha carregado, não dava um bocadinho de espaço para descansar um pouco e também não podíamos parar, senão nunca mais chegávamos. Sonhávamos era chegar a casa com a carrada direitinha e com a cama para dormir.

Os animais, coitados, suportavam tudo com enorme paciência, incluindo longos períodos sem comer e até as aguilhoadas que lhe dávamos para andar mais depressa. Eram animais maravilhosos, treinados para trabalhos pesados; raramente davam uma marradita, que, sem fazer mossa, nos fazia lembrar que não se deve bater em quem tanto fazia por nós. Tinham uma vida longa e recebiam sempre uma festinha no pescoço, quando se lhes levava alimento à manjedoira e que eles apreciavam levantando a cabeça para melhor os coçarmos.

Agora que não são precisos para trabalhos pesados, por terem sido substituídos pelos tratores, tem uma vida curta só com destino ao talho e perderam os carinhos que os garotos e alguns adultos lhes davam e que muito apreciavam.

É assim; mudam-se os tempos, «mudam-se as vontades».

Viagem

Autor: Jornal Frontal

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