O segredo da educação está no coração
Tem oito filhos, todos eles já criados. Foi uma vida dura, mas que dá muito orgulho àquele homem que já […]
Tem oito filhos, todos eles já criados. Foi uma vida dura, mas que dá muito orgulho àquele homem que já não disfarça os muitos anos vividos. Não chegou a fazer a quarta classe, mas não se importa, pois, o campo também foi uma boa «escola», que ensinava muitos a «ganhar o pão», com a ajuda de Deus. Também ganhou algum, nos hotéis do Luso, no tempo da fartura, mas, segundo me disse, agora aquilo já não é o que foi!
Com os filhos, já foi diferente. Obrigou-os a estudar e deu-lhes tudo o que podia, para que fossem alguém. Hoje, está feliz. São honestos, trabalham, estão bem casados e já todos têm filhos.
No meio da conversa, perto da sua casa, onde ambos tentávamos apanhar um pouco de sol, perguntei-lhe:
– Criou-os todos aqui na terra? É que deve ser complicado tomar conta de tantas crianças!? É preciso «ter olho»!?
Antes de me responder, sorriu-se com a minha ingenuidade. Depois, disse-me
– A gente educou-os como era possível! Mas sempre com muito coração. Sabe, senhor Padre, não bastava só ver por onde eles andavam, era preciso que eles sentissem e soubessem o bem que eu e a mãe lhes queríamos. Isso deu-lhes responsabilidade. Não que não lhes tivesse batido e ralhado, mas eles sabiam acima de tudo que nós gostávamos deles e fazíamos muitos sacrifícios para os educar.
Escutava todas aquelas palavras com gosto e digeria a sabedoria que as mesmas revelavam. Ele continuou:
– Eles eram muito reguilas, mas no fundo todos muito bons. Hoje sinto vaidade em todos eles, porque não se esquecem da gente e, como nós fizemos, agora eles também estão a cumprir a missão deles, de tentarem ser bons pais!
Interrompi-o para lhe perguntar se continuavam a viver a fé. Ele, com um ar de vencedor, contestou:
– Senhor Padre, alguns até são «ministros da comunhão» e ajudam muito os padres das igrejas de onde vivem, nas catequeses. Os netos, já fizeram todos «a Crisma», mas parece-me que não estão a seguir as pegadas dos pais e dos avós. Vamos ver! Mas será uma tristeza se não o fizerem.
Tentei consolá-lo, dizendo-lhe que agora era assim, mas senti que não valeu de nada.
Entretanto, já o estava a acompanhar de regresso à sua casa e mesmo à chegada, como que a despedir-se, disse-me:
– Senhor Padre, olhe não me arrependo do que fiz pelos meus filhos. Foi o que pude e com todo o coração. O resto ficou e está nas mãos de Deus. Sinto um grande sossego por isso. Ele não falha, pois não?!
Respondi-lhe afirmativamente, com um aceno de cabeça!
Já mesmo à porta da sua casa, reparei que a chaminé fumegava. Perguntei-lhe se já estava a queimar lenha. Ele respondeu-me:
– É logo de manhã que a mulher a acende. As casas, nesta época, estão geladas e a idade já não nos deixa aguentar o frio.
Aproveitei a ocasião para o provocar, questionando-o se gastava muita lenha de figueira. Ele sorriu-se e respondeu:
– Não é grande coisa! Até pode aquecer, mas ficamos maldispostos da cabeça!
Contei-lhe, então, que tinha sido no «grupo bíblico» de Antes que me tinham falado dessa lenha e a razão do mal que ela provoca, pois Judas, segundo eles, o discípulo que vendeu Jesus por dinheiro, antes da Paixão, se tinha enforcado, mais tarde, numa figueira. Ele volta a sorrir e disse-me:
– Se calhar é por isso. Mas sabe, tudo o que tem a ver com a falta de amor, faz mal às pessoas.
Nisto, reparei que o sol já estava encoberto por algumas nuvens e fazia-se sentir um incómodo vento frio. Era altura certa para nos despedirmos.
Regressando a casa, dei por mim a pensar na conversa com aquele homem. Não fui capaz de não a relacionar com a nossa forma de vivermos e de educarmos as gerações mais novas. Sem dúvida que o significativo nas nossas vidas, não podem ser somente os sonhos que queremos realizar e as metas que queremos alcançar, para nós e para os filhos. Precisamos sobretudo de «ter coração», para que fazendo o que podemos, Deus possa realizar o que falta, neles.
P. Rodolfo Leite
Autor: Jornal Frontal