Domingo, 28 de Abril de 2019

Se não fossem as minhas músicas eu não cantaria de certeza

Se não fossem as minhas músicas eu não cantaria de certeza

Cultura

Se não fossem as minhas músicas eu não cantaria de certeza

Miguel Araújo esteve na Mealhada, no âmbito da digressão denominada “Casca de Noz”, no passado dia 20 de abril. O […]

Miguel Araújo esteve na Mealhada, no âmbito da digressão denominada “Casca de Noz”, no passado dia 20 de abril. O Cineteatro Municipal Messias voltou a ter lotação esgotada, desta vez para ver ao vivo e a solo, em palco, o autor das músicas “Anda Comigo ver os aviões”, “Os Maridos das Outras” e “Pica do 7”, cantada por António Zambujo.

Antes de atuar, Miguel Araújo esteve à conversa com o Jornal da Mealhada e falou-nos sobre o seu percurso artístico, a importância que atribui à escrita de canções e como começou a paixão pela música…

 

Jornal da Mealhada – Em 1989 os seus tios oferecem-lhe o seu primeiro baixo. Considera-os cupidos da sua paixão pela música?

Miguel Araújo – Já havia um ”bichinho”, mas eu não ligava muito a esse “bichinho”! Eu tinha muito jeito, nas aulas de música, para tocar flauta e adorava tocar flauta. Eu era a única pessoa da minha escola que gostava de tocar flauta, mais ninguém gostava (risos)! Toda a gente achava péssimo (risos) …

Eu adorava música, mas depois, quando tive contacto com a música dos anos 60/70, é que eu comecei a ganhar uma obsessão, tanto que andava a chatear os meus tios, que acabaram por me oferecer um baixo no Natal e tudo começou, para mim, através do baixo. A minha vida mudou completamente. A música passou a ser a única coisa que me interessava.

 

JM – Pensou fazer carreira em outra área que não a musical?

MA – Nesta fase em que falamos eu andava na escola. Gostava das aulas, mas não me interessavam as brincadeiras, interessava-me a música e foi sempre assim ao longo da vida. Eu não quero dizer com isto que não quisesse fazer carreira noutra área, mas tinha a certeza que queria tocar a vida toda. Cantar não, porque eu não cantava nessa altura, mas queria tocar guitarra, baixo…

 

JM – Na sua carreira artística adotou três nomes diferentes: Miguel AJ, Mendes e Miguel Araújo. Qual dos nomes melhor o define como artista?

MA – Os três. Miguel AJ era a minha alcunha nos Azeitonas e era o nome que todos os meus amigos me chamavam, na altura, por isso foi esse o nome que usei. Mendes é o nome que os meus amigos mais antigos me chamam e eu, quando mostrei ao mundo as minhas primeiras músicas e as cantei, já fora dos Azeitonas, foi num blogue a que chamei Mendes, que ainda continua disponível na internet. Miguel Araújo é o meu nome de batismo e foi o nome que eu decidi (aliás, não decidi porque já estava decidido desde o meu nascimento) usar, agora, como artista. Portanto, eu sou esses três.

 

JM – O seu primeiro nome artístico está associado à banda “Os Azeitonas”, onde se tornou conhecido dos portugueses. Que recordações guarda da altura em que pertencia aos AZ?

MA – São memórias ótimas. Com a banda apresentei as primeiras músicas que fiz na vida e marca o momento em que comecei a levar mais a sério a minha vida de autor. Ainda hoje toco nos meus concertos algumas músicas desses tempos…Eles estão sempre presentes, por isso nem falo em termos de memórias. Eu continuo ligado à banda de outra maneira, eles são meus amigos. Estou sempre atento ao que eles fazem e vice-versa. Participo nos concertos deles quando calha e vice-versa. Não sinto que seja uma coisa do meu passado longínquo.

 

JM – Há pouco disse-nos que o seu blogue “Mendes” ainda continua disponível na internet. Continua a publicar músicas nessa plataforma?

MA – Não. Ele está online por uma questão de arquivo histórico, mas nunca mais lá fui. Foi no ano 2008/2009, talvez, que pus lá uma data de músicas, algumas delas acabei por gravar nos meus discos, várias delas até. Hoje em dia não sinto que o blogue seja necessário. Criei o blogue numa altura em que ainda não existia streaming… Falei com um amigo meu e ele fez-me um blogue que funcionava como streaming, tinha lá as músicas e dava para pôr play e ouvir sem ter que as descarregar, era essa a minha ideia. Entretanto, apareceu o Spotify e uma data de coisas muito mais competentes que o blogue.

 

JM – Em maio de 2012 lança o seu primeiro álbum a solo – “Cinco Dias e Meio” – e mais tarde, em 2016, acaba por abandonar a banda AZ para abraçar uma carreira em nome próprio. A banda deixou de fazer sentido para si e para o caminho que queria fazer na música?

MA – Entre 2012 e 2016 estive tanto a solo como com a banda e só saí porque não estava a dar para conciliar, não estava a ser saudável em termos de saúde. Eu tinha concertos quase todos os dias e com filhos…não estava a dar para conciliar.

JM – Gosta mais de escrever canções ou de cantar?

MA – Nem uma coisa nem outra, mas sinto que me distingo mais a escrever do que a cantar. Aliás, se não fossem as minhas músicas eu não cantaria de certeza. E mesmo que não fosse eu a cantar, escreveria as músicas de certeza, por isso eu sou mais um autor do que um cantor.

Antes eu nem gostava de cantar, mas agora, com o passar do tempo, tenho vindo a gostar mais e a estar mais à vontade. Com mais prática aprendi a colocar a voz de uma maneira mais natural, então, agora, até é uma coisa que gosto de fazer – cantar. Às vezes, nos concertos, até canto músicas que não são minhas e isso, antes, jamais faria.

Eu sinto que a escrita das canções é uma coisa mais importante e por isso, se eu não tivesse voz, ia continuar a escrever canções. Por outro lado, se eu não escrevesse canções não cantaria.

 

JM – Para além de escrever as suas músicas, o Miguel já escreveu para vários músicos. Quanto escreve para alguém tem que ter um vínculo com o artista?

MA – Tem calhado ser assim, só ter escrito para pessoas que eu conheço pessoalmente e bem. Sempre que alguém, que não conheço pessoalmente, me pede uma música, não consigo, não sai nada e acaba por não se proporcionar. Por alguma razão eu tenho que sentir uma afinidade qualquer com a pessoa, tenho que me pôr nos sapatos dessa pessoa, tenho que me pôr na voz dessa pessoa para que a música saia bem e tem sido assim… Para já todas as pessoas são minhas amigas também.

 

JM – Escreveu músicas para o João Só, António Zambujo, Ana Moura, Luísa Sobral…Com quem se identifica mais artisticamente?

MA – Completamente? Nenhum, cada um tem a sua onda. Há um lado meu que se identifica muito com o João Só, temos muito em comum e também partilhamos muitos gostos, nomeadamente a paranoia das guitarras e dos instrumentos. Com o Zambujo identifico-me noutra vertente. De certa maneira o Zambujo e eu somos tão diferentes que nos complementamos um ao outro, então, isso também gera uma identificação única entre nós os dois. Ele gosta muito e admira muito o que eu faço e eu gosto muito e admiro muito o que ele faz, porque ambos sentimos que não temos capacidade para fazer o que o outro faz (risos)! Cada um tem inveja do outro (risos), por isso é que a nossa combustão funciona tão bem. Eu diria estes dois porque também são aqueles que eu conheço melhor e há mais tempo.

 

JM – Quem convidaria para cantar consigo o “Pica do 7”?

MA – Sei lá…a música já foi cantada por tanta gente…a Luísa (Sobral) já fez uma versão, uma miúda chamada Mariana, que canta super bem, também já fez uma versão… É aquela música minha que a malta vai cantar aos programas de televisão (risos)!

Esta é uma daquelas músicas que se tornou parte do imaginário coletivo e isso é uma honra enorme. Eu acho que a música ganhou com essa conotação extra que ela tem, que por si só não tinha, aliás, que nenhuma música por si só tem…a partir do momento em que passa a ser cultura comum entre tanta gente.

 

JM – Desde 2013 que tem sido, anualmente, nomeado para receber prémios. Soma cerca de 16 nomeações, seja a solo, seja como membro dos AZ ou como autor. Das 16 venceu três. Que importância atribui às nomeações e aos prémios?

MA – Eu não dou muita importância a isso, mas faz parte e é bom. São sempre critérios subjetivos e a música é mesmo isso: é subjetiva e relativa. A música pode ter importância para uma pessoa e não ter importância para aquela que está ao lado. Se fosse daqueles prémios que dão dinheiro (risos) … mas é só uma medalhita ou assim!

 

JM – A imagem da sua atual digressão é uma casca de noz. A que se deve a escolha da imagem?

MA – Associo a imagem aos barquinhos que podem naufragar a qualquer momento e por estar sozinho em palco isso pode acontecer, posso naufragar a qualquer momento.

Gosto muito de me pôr na corda bamba nestes concertos, deixar muita coisa por ensaiar, muita coisa por preparar…Gosto de cantar músicas que nunca sequer experimentei cantar na vida e se me ocorre na altura eu canto, nem que seja só meia música. Surgiu-me, por isso, a imagem de uma embarcação frágil…E a casca de noz é, também, cosy (acolhedora) e eu estou em palco rodeado de instrumentos…

 

JM – O que é que as pessoas que compram um bilhete para os seus espetáculos podem esperar?

MA – Quando um concerto corre bem eu tenho a tendência que o seguinte seja à imagem do anterior, mas depois esse já não corre bem, porque já não foi espontâneo. Eu já ando há três concertos a fazer coisas muito parecidas, por isso, eu hoje (20 de abril) decidi “virar o bico ao prego” e vou fazer uma coisa totalmente diferente. Vou cantar músicas que nunca cantei. Então, ou vai correr muito bem ou vai correr muito mal. Vai ser uma surpresa, mas em princípio vai correr bem (risos)!

 

Fotografia: Miguel Araújo

Créditos Fotográficos: Página de Facebook de Miguel Araújo

Miguel Araújo

Autor: Jornal Frontal

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