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João Pega
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Diária

Cumprir o que se Promete


quarta, 23 janeiro 2019

Longe vai o tempo em que Sócrates se deslocou, com toda a pompa e circunstância, aos Paços do Concelho de Mortágua para anunciar o lançamento do concurso para a construção das então denominadas Autoestradas do Centro, que resolveriam de vez o problema do IP3, além de outros mais. Estávamos em Março de 2008 e ficou ali desde logo garantido que as obras estariam concluídas ainda em 2011. 184 quilómetros de novas ligações, com um custo aproximado de 750 milhões de euros. As razões apontadas para essa construção eram em tudo semelhantes às que hoje prevalecem: melhoria da qualidade de vida das populações, forte impulso à competitividade da economia da região e reforço considerável da segurança dos utilizadores das vias. Até aqui tudo muito bem, não fosse dar-se o caso de passado 11 anos (!) dessa feérica e envaidecedora cerimónia não haver um único quilómetro construído desde então. Aliás, de todo esse aparatoso evento resta apenas uma placa comemorativa mandada colocar bem ao lado da porta de entrada da Câmara, pelo senhor que a presidia na altura, contra a qual me insurgi de forma revoltada por variadas vezes, ao longo desta última década. Hoje, por outro lado, sou manifestamente contra a sua retirada, tanto pelo seu valor histórico como pela carismática associação dos protagonistas que esta revela. O seu simbolismo é incalculável, pelo que espero que ainda perdure precisamente ali onde está, bem visível, por muitos e bons anos.

O IP3 é um problema gigantesco deste País, a começar pela sinistralidade terceiro-mundista que tem revelado. Depois, é inegável que se trata de um investimento estruturante para o País, que carece de uma ligação minimamente digna entre duas importantíssimas capitais de distrito, e que se constitui ao mesmo tempo como o eixo da ligação entre o Interior e a rota do transporte de mercadorias para exportação. O consequente aumento da competitividade económica de toda a região é bem real, não é dos que não sai do papel, pelo que não há, de entre todos os autarcas abrangidos, qualquer espécie de voz dissonante na substância quanto à pertinência da sua requalificação. Ao que parece, é desta que será de vez. Pelo menos está dado o pontapé de saída. O avarento Primeiro-Ministro António Costa (neste caso não é uma crítica nem um elogio, mas sim uma constatação), que, convenha-se, já estava na altura de abrir um pouco os cordões à bolsa e realizar investimentos públicos de notabilidade, anunciou também em Mortágua a adjudicação do primeiro troço, entre o nó de Penacova e a Foz do Rio Dão. Trata-se de uma distância muito curta, é certo, mas não deixa de ser um começo... e já dizia muito sabiamente Lao-Tsé que “uma longa caminhada começa com um primeiro passo.” Não é com o anúncio da intenção de se dar esse primeiro passo nem com a celebração instrumentalmente efusiva do anúncio da intenção de se dar esse primeiro passo. Um pouco confuso, não? Mas percebê-lo é bem mais simples do que parece.

A obra está entregue, pelo que aguardamos o lançamento da primeira pedra para podermos, aí sim, festejar o cumprimento de uma promessa política que já era quase intemporal. Num ano em que vai a sufrágio, António Costa é o homem que a cumpre, como aliás tem vindo a fazer em relação a praticamente tudo o que tem prometido, desde que lidera o Executivo: uma “geringonça” que quer mesmo andar para a frente, ao contrário da “caranguejola” que parece nos querer puxar para trás. Na cerimónia do passado dia 18, o PM não se cansou de sublinhar a importância da “revitalização do Interior”, bem como a necessidade de “não nos podermos deixar ficar pelas palavras”. Como entusiasta da continuidade no rumo que temos seguido para a próxima legislatura, não posso deixar de saudar estas tão relevantes declarações, e estou certo de que o mandato que se segue será esclarecedor. Espero que António Costa seja efectivamente confiável. Hoje, contam-se pelos dedos os protagonistas políticos que o são. É preciso cumprir o que se promete.