DEUS VALE MAIS QUE OS TEMPEROS…!
Já lá vai quase meio ano. Fui convidado para jantar lá em casa. A simplicidade e a bondade daquela gente abriram-me o apetite e aceitei.
Cheguei a horas! Entrei pela cozinha das traseiras e dei a saudação.
- Já vem aí, senhor Padre?!
Brinquei com a mãe e a filha, dizendo que para comer nunca me atraso! Elas responderam com uma gargalhada. Entretanto, entram na cozinha o genro e a neta que também me cumprimentam.
- Vamos para a sala que já tenho tudo pronto!
Perguntei se podia ajudar, mas não me deixaram e a mãe – mulher dos seus 70 e muitos anos – diz-me:
- Senhor Padre, hoje, Deus fez chover ouro. Estava tudo a ficar seco. Deus queira que continue assim, pelo menos durante a noite…
A neta, ouvindo a avó, contesta:
- Ó avó, a chuva não tem nada a ver com Deus. É uma questão da meteorologia…
A avó nem acaba de ouvir, para lhe responder com determinação e num semblante sério:
- Qual quê, menina!? Então não é Nosso Senhor que governa tudo isto?
Voltando o olhar para mim, diz:
- Senhor Padre, diga, à minha neta que quem manda nisto tudo é Deus!
Confesso que fiquei aflito, pois não estava a contar com o «desafio» daquela senhora. Entretanto, a filha diz.
- Deixe lá isso, mãe… E sabe que a sua neta estuda muito, lá na universidade. Ela sabe o que diz!
Ao ouvir isto, a avó, com um sorriso meio a gozar, responde à filha:
- E faz bem! O que lhe faz falta é rezar e ir à Missa! Os livros não nos salvam!
Encantou-me a resposta e fiquei mais tranquilo, porque escapei-me do confronto entre neta e avó, embora esta pareceu-me não precisar da minha ajuda. Entretanto, começamos a refeição e fomos falando das suas vidas. A certa altura, diz a neta para avó:
- Ó avó, está tudo delicioso. Como consegue fazer assim a comida
Responde a avó:
- Com a ajuda Deus, menina.
A neta ao escutar isto, sorriu-se e diz, em voz baixa, para mãe:
- Se não fossem os temperos, gostava de ver o que Deus fazia!
Continuámos a refeição. Já no final, quando o pai acaba de comer, cruza os talheres sobre o prato. A filha, quase a gritar, diz-lhe:
- Não faças assim, pode dar azar…!
Mudando de imediato a posição dos mesmos talheres. A avó, olhando para mim, riu-se. Depois, vira-se para neta e diz-lhe:
- Olha menina, enquanto andares com esses disparates na cabeça, não vais a lado nenhum! Só me resta rezar para que encontres Nossos Senhor na tua vida!
Levantou-se, entretanto, e foi buscar uma deliciosa de sobremesa. Falámos mais um bom bocado e terminámos de forma serena e bastante cordial.
No regresso a casa, vim encantado com aquela avó e com a sabedoria de vida e de fé que possui. Afinal, aquela avó acredita num Deus vivo, que está na vida e que dá vida ao seu viver. O «resto» que anda por aí muito espalhado, até no viver de tantos que se dizem não crentes, é mera superstição, ou melhor, disparate!