Crónica para aposentados: Os escritores e poetas da Bairrada
O concelho de Mealhada está, desde tempos bem distantes, integrado numa subregião denominada por “Bairrada” e que é historicamente delimitada por uma linha que, partindo dos pendores ocidentais da serra do Bussaco, passa depois pelos limites exteriores das povoações de Pampilhosa, Carqueijo e Vimieira, do concelho de Mealhada; por Murtede e Sepins do concelho de Cantanhede; e, de seguida, pelas povoações de Torres, Pedreira de Vilarinho, Samel e Ancas do concelho de Anadia; seguindo, por Troviscal e Oliveira do Bairro, deste último concelho, para entrar novamente, nas povoações de Sangalhos, Avelãs de Caminho, Avelãs de Cima, Moita, Vila Nova de Monsarros, igualmente do concelho de Anadia, até atingir, outra vez, as vertentes ocidentais da serra do Bussaco.
Abrange, assim, esta subregião praticamente a totalidade dos concelhos de Anadia e Mealhada e parte dos concelhos de Cantanhede e Oliveira do Bairro. É uma região que histórica, sociológica e antropologicamente falando foi sempre uma das regiões mais ricas e mais importante do Centro de Portugal, desde tempos imemoriais, quer no aspeto económico, quer mesmo no âmbito cultural. Várias razões históricas e naturais contribuíram para esse desafogo e fama, e que a tornaram centro de termalismo, de gastronomia e de enologia que a converteram em importante zona e que levam tantos milhares de aquistas, anualmente, à sua demanda. No âmbito cultural, o que determinou essencialmente a sua riqueza é o facto de se ter constituído à beira de uma cidade como Coimbra, centro cultural desde a data em que nela foi instalada a sua Universidade em 1537, e responsável pela formação de gerações de letrados que integraram as elites políticas portuguesas entre os séculos XVI a XIX, que deram à sua cidade uma identidade específica e uma configuração espacial marcada pela presença dos seus estudantes e um controle sobre a educação moral da juventude. Por causa disso, há até uma tese, que é a do filólogo, Dr. Joaquim da Silveira, que, por sua vez, segue a tese do Padre Carvalho da Costa (in “Corografia Portuguesa, vol. 2º, publicada no séc. XVIII) e de Gonçalves Viana (Apostilhas, vol. I, pág.120), que demonstra que o sentido originário do nome da nossa “Bairrada” é de “bairro rural, isto é, subúrbio extenso” de uma cidade, que aqui é Coimbra, já que dela fomos dependentes, pelo menos até finais da dinastia afonsina, ou então, o “conjunto de casais” disseminados nesse subúrbio, ainda que dele afastado, mas que dele dependem.
Contrária a esta, existe a tese de alguns geólogos, seguida pelo Prof. Amorim Girão (in Guia de Portugal”, vol. III), que diz que “Bairrada” advém do facto de ser uma região composta por terrenos em que o barro predomina, ou seja, uma região de terrenos fortes e sobretudo próprios para a cultura cerealífera ou da vinha. Daí advindo o contraste entre a região da “Bairrada” e a da “Gândara”, a primeira, composta por terrenos argilosos e, a segunda, composta por terrenos arenosos. Porém, esta tese é fortemente contestada por aqueles primeiros autores. Para maior desenvolvimento da questão, veja-se o Dr. José Rodrigues, que foi um ilustre advogado na comarca de Anadia e residente em Aguim, (na sua obra “O Couto de Aguim”, págs 145 a 150).
Qualquer que seja a tese que se considere verdadeira, nenhuma contradiz a afirmação e a realidade que a região da Bairrada é uma das regiões mais importantes do Centro de Portugal, desde tempos imemoriais, designadamente no âmbito cultural (Nossa 32 (XXXII) Crónica para Aposentados.
“Conhecer e viver a Região da Bairrada: breves considerações sobre a génese e evolução histórica, social e cultural do território que hoje constitui o concelho da Mealhada”, de setembro de 2020).
“No âmbito da prosa, a sua principal romaria, designada por “Romaria da Ascensão do Bussaco”, surgida a partir do ano de 1834, com a abertura da Mata do Bussaco ao público, depois de estar na posse dos Carmelitas Descalços por mais de 200 anos, local paradisíaco onde aquela se realizava, que perdurou com paulatina intensidade, até às décadas de 1960 e 1970, foi exaltada por prosadores, como: Bulhão Pato, Pinheiro Chagas, Fialho de Almeida, Antero de Figueiredo, Júlio Dantas, Jaime Cortesão, Forbes de Campos e José Augusto Pais (José Povinho) ou sublimada, ao longo dos tempos, por poetas, em odes arrebatadas, tais como: Bernarda de Lacerda, Duarte Ribeiro de Macedo, Frei António das Chagas, António Feliciano de Castilho, que visitava Aguim, do concelho de Anadia, José Freire de Serpa Pimentel, Mendes Leal, Miguel Osório Cabral, João de Lemos, Soares de Passos, António Francisco Barata, Amélia Janny e pelos nossos poetas bairradinos: o poeta-padre, na sua missão sacerdotal, orador e promotor da cultura regionalista, Acúrcio Correia da Silva, nascido no lugar de Cercal, do concelho de Oliveira do Bairro, no dia 22 de outubro de 1889 e onde faleceu, no lugar de Sangalhos, no dia 15 de março de 1925, com apenas 35 anos, tendo sido o fundador da “Plêiade Bairradina”, em 1919; António de Cértima, de nome de batismo António Augusto Gomes Cruzeiro, diplomata, nascido em Gesta, da freguesia de Oiã, do concelho de Oliveira do Bairro, em 27 de julho de 1894, e falecido no Caramulo, do concelho de Tondela, em 21 de janeiro de 1983; a poetisa médica e psiquiatra Isabel Cristina Pires, natural da Pampilhosa, do concelho de Mealhada; o poeta inspetor escolar, António Rodrigues Pepino Leónidas, nascido em Fermentelos, do concelho de Águeda, em 1884, e falecido em Coimbra, em 1970, e o poeta cavador, Manuel Alves, nascido e falecido no Lugar de Vale de Boi, da freguesia de Moita, do concelho de Anadia.
Brevemente sairá a continuação do artigo.