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Diária

Vamos falar sobre Burnout!


terça, 10 dezembro 2024

Antónia é chefe de Isabel. Antónia discute com Isabel todos os dias, humilha-a na frente de todos, diz-lhe que está velha e incompetente. Após uma discussão mais acesa, Isabel entra de baixa médica. Não era a primeira vez que sucedia, só que desta vez Isabel não voltou ao trabalho. Três semanas depois, surge a notícia de que Isabel morreu.

 

Assédio moral laboral, também conhecido como bullying no trabalho ou mobbing, é um comportamento repetitivo e intencional que visa a humilhação pessoal e ao isolamento social da vítima. Isso pode ocorrer de várias formas, incluindo: críticas constantes e injustificadas; ataques contínuos à competência ou pessoal do trabalhador; isolar o trabalhador, ignorando a sua presença ou excluindo-o de atividades sociais e profissionais; atribuir tarefas excessivas ou impossíveis de serem realizadas no prazo estipulado; negar acesso a informações importantes para a realização do trabalho; humilhação pública: repreender ou ridicularizar o trabalhador na frente de outrem; espalhar rumores maliciosos; culpar as vítimas independentemente dos seus comportamentos.

As consequências do assédio moral no trabalho podem ter repercussões severas, existindo quadros depressivos que surgem em meio laboral e por causa deste. O burnout, uma condição que, desde 2022, entrou para a lista das doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge cada vez mais pessoas, estimando-se que um em cada quatro portugueses seja afetado. Em contexto de burnout, que associamos a exaustão física e/ou emocional, a neuro química cerebral sofre alterações significativas, que se reproduzem em sintomas físicos e psíquicos. E nesta sequência pode surgir a depressão. Um contexto de disfunção ao nível das relações profissionais em contexto de assédio moral, pode causar dano psíquico irreversível ao trabalhador.

É frequente, nestas situações, o trabalhador ser uma pessoa dedicada ao trabalho, com grande investimento pessoal e emocional na profissão, auto culpabilizando-se quando surge o problema, ou seja, a pessoa convencesse que é incompetente, mesmo que não o seja, simplesmente é condicionado a julgar-se dessa forma. O trabalhador não conseguir identificar o padrão de relação interpessoal disfuncional em meio laboral; não identificar mudanças ou sintomas ao nível dos seus afetos e/ou comportamentos, que podem ter gravidade suficiente para afetar a vida pessoal e demais esferas vivenciais. O trabalhador adoecer ao nível psíquico, com um grau depressivo intenso, no qual o risco de suicídio não deve ser descartado.

É importante falar abertamente sobre este grave problema e do impacto da cultura organizacional e das lideranças na nossa saúde mental. Temos um tipo de cultura organizacional que é precisa mudar, com lideranças despreparadas e ineptas, onde facilmente se confunde o autoritarismo com autoridade. Geram ambientes de trabalho ameaçadores, tóxicos, controladores, em que as pessoas sentem sobretudo emoções como medo, vergonha, frustração, onde a pressão é contante e o elogio, escasso ou inexistente.

É essencial que as pessoas tenham a noção que esta realidade existe e é mais frequente do que se pode pensar. O primeiro passo para a resolução de um problema é saber que ele existe. O mobbing laboral existe. O dano psíquico decorrente de assédio moral, e por causa deste, existe. Existem profissionais que são alvo de assédio moral no local de trabalho, sofrendo um dano psíquico suficientemente grave que pode chegar ao desfecho trágico. E mesmo não chegando a esse ponto as repercussões podem ser devastadoras na vida das vítimas.

Em um mundo corporativo cada vez mais competitivo e exigente, cuidar da saúde mental dos trabalhadores é uma questão de responsabilidade social, mas para além disso uma prática inteligente de gestão, sendo certo que continua a ser desvalorizado no universo institucional e empresarial.