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João Pega
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Diária

Veia poética: O retrato e o espelho


terça, 29 outubro 2024

De seu nome, Policarpo

Comprou um espelho barato

P’ra substituir seu retrato,

Tirado, quando rapaz

Há muitos anos atrás

“à lá minuta” em Sandim.

De tanto para ele olhar

Pois que o fazia pensar

Que ainda hoje era assim

Aconteceu:

A imagem esmoreceu!

Então…

Pôs o retrato de lado

Espreitou o espelho de frente

Mas logo, rilhou o dente

E soltou berro espantado.

Quem é este mal-amanhado

Barba branca e engelhado

Que está aqui espelhado?

Quem é este camafeu

Este judas, plebeu?

Juro, que não sou eu!

Te faço em mil pedaços

P’ro inferno, maldito espelho!

Por me trocares por um velho

Que há muito baixou os braços

E tem pé no cemitério.

Vai daí

O espelho, então respondeu:     

Trocaste o Sol, por um espelho

Não és novo, mas nem velho      

Apenas estás vivido.

Nada tens a lamentar                             

E a tua alma, não te enjeita

Por aprenderes, que por cá              

A vida é para se semear

E que a sonhada colheita

Te espera noutro lugar.