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Diária

Prometeu… «aquele que vê antes»!


terça, 29 outubro 2024

Por estes dias, alguém me falava da dificuldade de tomar decisões e fazer opções, quando nem todos conseguem ter uma visão de futuro, em relação à vida, e não vivem ao sabor do momento. Concordei totalmente, pois considero que somos escravos do «imediato», iludimo-nos facilmente com o «instante» e falta-nos, tantas vezes, a lucidez para ver as consequências do que decidimos ou omitimos, pois estamos como que hipnotizados com as conveniências momentâneas. Entretanto, na conversa, falei-lhe do mito de Prometeu.

Segundo a mitologia da Grécia antiga, Prometeu - cujo nome significa «aquele que vê antes», ou seja, que tem a clarividência - ficou com a missão de supervisionar as criações do irmão Epimeteu - que tem como significado no seu nome «aquele que vê depois», isto é aquele que tem «ideias tardias».

Assim, Epimeteu fez os animais e concedeu-lhes dons variados, como a força, a coragem, a velocidade, as presas, as garras, as asas e a agilidade. Quando chegou a vez dos seres humanos, criados a partir do barro, não havia mais habilidades para lhe serem destinadas. Então, este conversa com o seu irmão Prometeu e explicando-lhe a situação. Prometeu, compadecendo-se da humanidade, rouba o fogo dos deuses e concede-o aos humanos mortais, facto que lhes deu vantagens em relação aos outros animais.

Quando Zeus, o deus dos deuses, descobre o feito de Prometeu, fica terrivelmente irado. Assim, este titã foi punido com um dos piores castigos da mitologia grega. Ele foi acorrentado no topo do Monte Cáucaso por Hefesto, deus da metalurgia.

Diariamente, aparecia uma águia para comer o fígado de Prometeu. À noite, o órgão regenerava-se e, no dia seguinte, o pássaro voltava para devorá-lo novamente. Por ser imortal, Prometeu permaneceu acorrentado por muitas e muitas gerações, até que o herói Héracles o libertou.

Antes de ser castigado, Prometeu avisou o seu irmão Epimeteu para que não aceitasse nenhum presente vindo dos deuses. Mas Epimeteu acabou por se casar com Pandora, uma bela mulher que lhe foi dada, como oferenda dos deuses e que trouxe muitos males à humanidade.

Este é um dos mitos da Grécia Antiga que explicam a origem da humanidade. Os irmãos Prometeu e Epimeteu representam as duas polaridades. Eles são o símbolo da dualidade entre aquele que prevê, ou que age com sensatez, discernimento e previdência, e aquele que não reflete antes de tomar atitudes, sendo impetuoso e ágil.

Prometeu representando como que um «salvador» da humanidade, entretanto, devido à sua transgressão, sofre um castigo cruel que aparece como uma advertência para ser «obediente» aos poderosos. É importante também realçar que Prometeu questionou as divindades e nunca se conformou ou se curvou a Zeus, mantendo a sua dignidade até o último momento. Assim, o titã fez um sacrifício – que na origem do termo significa «tornar sagrado» – em favor do bem comum.

Já agora, nestes tempos em que só olhamos de «forma tardia» as coisas e sofremos as consequências das opções feitas, sem discernimento nem clarividência, importa assumir, uma vez por todas, a necessidade de «ver antes» e optar sempre pelo melhor, isto é, pelo bem comum. Isto, sem ficarmos reféns de grupos, tendências ou conveniências, mesmo com o preço do sacrifício.