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Planta cortante e alergénica prolifera em território nacional


sexta, 11 outubro 2024

Uma espécie de planta exótica em particular, originária da região das Pampas, na América do Sul, nome científico Cortaderia selloana– a erva-das-pampas - que até há duas décadas surgia principalmente confinada a jardins, está rapidamente a tornar-se numa ameaça descontrolada no território português.

A professora da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC) e responsável pelo projeto Life COOP Cortaderia no Instituto Politécnico de Coimbra (IPC), Hélia Marchante alerta para a propagação descontrolada desta planta. “Esta espécie ocupa facilmente as bermas e imediações das nossas estradas, caminhos-de-ferro e outras áreas perturbadas, encontrando aí uma oportunidade fácil para se expandir rapidamente. Mas também invade outros locais, como sapais, dunas ou mesmo o subcoberto de áreas florestais. Isto deve-se à sua excelente capacidade reprodutiva, que se traduz em milhões de sementes minúsculas por planta; às suas baixas exigências por recursos; à sua grande flexibilidade em termos de condições ecológicas onde consegue crescer; e, por vezes, à ausência de competição por outras espécies que (não) ocupam o território, devido à degradação das comunidades vegetais”, explica.

Nesta altura do ano, prossegue, “é muito fácil identificar onde estão as ervas-das-pampas, já que estas se revelam esplendorosamente na paisagem, exibindo as suas inflorescências, plumas, ou penachos vistosos, de coloração variada que pode ir desde o prateado ao ligeiramente rosado. É com a sua beleza enganadora que disfarça os impactos negativos que causa e se torna atrativa para quem (ilegalmente) a usa para decorar jardins, montras e até casamentos. Quem já esteve em contacto direto com esta planta sabe, em primeira mão, o quão perigosa ela pode ser para a pele (daí o seu nome Cortaderia) e para as vias respiratórias. Os impactos negativos no estado de saúde da população, através das alergias que causa, é particularmente agravado por florir depois do verão, numa época em que menos espécies alergénicas costumam florir, sendo responsável por um novo pico de alergias, mais tardio.” Mas, avisa, “os impactos negativos não se ficam por aí. Tem também impactos económicos associados ao seu controlo, particularmente nas faixas marginais às estradas, obrigando a gastar recursos financeiros avultados. Adicionalmente, ao crescer sem controlo, a erva-das-pampas forma áreas homogéneas, nas quais é a única protagonista, impedindo as outras espécies e degradando os ecossistemas, e os benefícios que os mesmos nos dão.” “Nem as nossas culturas agrícolas e florestais estão imunes a esta ameaça invasora”, assegura. “Nesta altura do ano, esta espécie, a Cortaderia, já efetuaram as trocas de pólen e as plantas femininas estão agora a dispersar as suas sementes, expandindo mais uma vez a sua área de ocupação.”

A responsável pelo projeto ressalva que é “urgente agir enquanto sociedade, parar esta catástrofe ambiental e as suas consequências sociais negativas.”

Dando continuidade ao projeto LIFE STOP Cortaderia, que terminou no ano de 2022, o COOP Cortaderia, em desenvolvimento até setembro de 2028, tem precisamente como objetivo sensibilizar, educar/formar e promover a intervenção dos vários setores da sociedade de forma a gerir melhor a invasão biológica por erva-das-pampas, contando com a participação de parceiros espanhóis, franceses e portugueses.

Todos os Municípios, Comunidades Intermunicipais, Concessionárias de (Auto)Estradas, assim como outras entidades, incluindo Associações, ONGs, empresas, etc. foram já contactadas e convidadas a aderir. Existem, até à data, 63 entidades portuguesas aderentes, de entre um total de 185 entidades nos três países.

A Câmara Municipal da Mealhada já aderiu em 2021 ao COOP Cortaderia.

Hélia Marchante lança o repto: “se pertence a uma entidade pública ou privada que possui ou lida com esta espécie no seu território (ainda que pontualmente), pode juntar-se à Estratégia Transnacional, trabalhar em conjunto com parceiros que enfrentam o mesmo desafio, e passar a fazer a diferença usufruindo dos benefícios que o projeto lhe pode oferecer. Se, por outro lado, é um cidadão preocupado, pode controlar a espécie nos seus terrenos (se os tiver), deixar de usar a espécie, ou fazer pressão junto das entidades para que controlem esta (e outras) espécie invasora.