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Entrevista a João Dias: “Vou continuar empenhado e dedicado no trabalho que desempenho na UEFA”


quinta, 01 agosto 2024

O cantanhedense, João Dias, esteve presente no Campeonato Europeu de Futebol 2024, na Alemanha, onde integrou uma equipa de preparadores físicos de árbitros nomeados para esta competição.  Esta participação foi a 17ª em competições europeias.

Em entrevista, João Dias referiu que sempre gostou de desporto, mas nunca pensou que o seu percurso profissional passaria pela UEFA e conta como iniciou o seu percurso.

 

Como começou o processo para ser preparador físico de árbitros?

Em 2000 a liga Portuguesa de Futebol Profissional abriu centros de treino em alguns dos distritos nacionais. Abriu um centro de treinos em Coimbra e Mário Mendes, antigo árbitro da primeira divisão, contactou-me e questionou-me se eu estava interessado em aceitar o desafio que seria ser preparador físico dos árbitros na Liga Portuguesa de Futebol Profissional, hoje em dia chama-se Liga Portugal.

O João aceitou o desafio. Tinha consciência do rumo que a sua vida profissional ia levar?

Não. Nunca pensei que este seria o meu percurso, era um projeto novo no país e nem sabia muito bem o que ia acontecer. Já naquela altura era treinador principal do Clube Marialvas, pois tinha tirado o curso há cerca de três anos. Sempre gostei desta área do treino e felizmente correu e tem corrido bem!

Como é que teve conhecimento da sua primeira competição internacional, o Euro 2004?

Foi uma situação curiosa. Em novembro de 2003, na praia da Vieira, houve um workshop com os responsáveis da UEFA. Os preparadores físicos foram todos fazer este workshop, mas ninguém sabia o motivo. Em função dos trabalhos realizados eu fui o escolhido pela UEFA. Em março de 2004 contactaram-me da Federação para me dizerem que tinha sido escolhido como representante nacional no Europeu de 2004. Fiquei surpreendido, não estava à espera de ser selecionado.

Sentiu a responsabilidade que lhe tinham acabado de incutir, depois de receber essa chamada?

O primeiro impacto foi a surpresa, depois caí na “realidade”, de seguida foi a perceção da enorme responsabilidade que me tinham acabado de dar. Não estava a representar o João Dias, estava a representar o nosso país, daí a minha motivação e empenho serem ainda maiores. Felizmente toda esta experiência correu muito bem já que me abriu portas, porque por vezes é muito difícil entrar nestas dinâmicas internacionais. Aliás, até hoje mantenho-me a trabalhar com a UEFA.

Já participou em quantos campeonatos?

É um longo historial. Neste momento, sou responsável pela planificação de treino e pela componente física nos cursos de Futsal na UEFA, sou o único preparador físico que trabalha no futebol e no futsal.  No futebol trabalho numa equipa com cinco pessoas, em que o líder é o Werner Helsen, belga, e eu sou o segundo mais antigo da estrutura.

Qual a importância da preparação física para o desempenho dos árbitros durante os jogos?

A preparação física é fundamental. Se compararmos o perfil do árbitro há 20 anos atrás com o de hoje em dia, verificamos que a capacidade física evoluio bastante, eles trabalham imenso. Na altura não havia profissionalização e hoje já existe, o que ajuda a desenvolver a componente física. O jogo está cada vez mais rápido e o árbitro tem de acompanhar o jogo adequadamente. Portanto, tudo o que esteja relacionado com a componente física é fundamental, para depois juntar à componente técnica e psicológica para lidar com a pressão e decidir bem nos jogos.

Gerir a pressão é essencial em jogos de grande competição, como se treina esse fator?

Sim. Existe uma necessidade da parte dos árbitros em treinar tudo o que seja tomada de decisão. As metodologias têm evoluído nesse sentido, são criadas situações de jogo no processo de treino para que eles em equipa, árbitro e assistentes, consigam desenvolver capacidades e competências. Neste sentido, quando determinadas situações acontecem durante os jogos já é mais fácil tomar boas decisões.

João quando é que começou a ministrar cursos da UEFA?

Esta aventura de formador na UEFA começou em 2010 com o programa CORE (Centre of Refereeing Excellence), Centro de Excelência de Arbitragem, nesta vertente de formador sou um dos preparadores físicos que dá formação teórica e prática às novas gerações que já foram várias nestes 20 anos.

Estes cursos são dados onde?

Em Nyon, na Suíça.

Viaja muito e passa pouco tempo em casa, como consegue gerir tudo?

Sim, e para que tudo isto seja possível é fundamental o apoio familiar, porque não é fácil estar tanto tempo fora. Para além disto, sou professor de educação física na Escola EB 2 3 Marquês de Marialva, em Cantanhede.

Para que eu saia várias vezes ao longo do ano, não é só importante o apoio familiar, mas também o dos Conselhos de arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, só saiu com requisições do IPDJ tal como consta na lei, vou em representação nacional e só desta forma, com esta envolvência e colaboração viajo e represento o nosso país.

Ao longo de todo este percurso profissional que dificuldades sentiu?

Inicialmente o meu maior receio era falar a língua inglesa, principalmente quando aceitei o desafio de ser formador. As formações têm uma duração de uma hora ou mais e são para um grande número de pessoas, onde temos de falar inglês permanentemente. Consegui ultrapassar esta dificuldade e hoje em dia falo inglês sem dificuldades. Aliás, a mensagem que passo aos mais novos é precisamente esta, que aprendam a língua inglesa, pois é fundamental!

O Campeonato Europeu de Futebol 2024 acabou há relativamente pouco tempo, como foi esta experiência?

Há vários meses de preparação antes do torneio em que vamos monitorizando todo o processo de treino que os árbitros vão tendo e isso faz com antecipemos a forma como os árbitros chegam aos jogos. Durante a competição verificamos que os árbitros estavam muito focados para trabalhar e dar o seu melhor.

Futuramente quais são os seus objetivos?

Quero continuar nesta dinâmica. Sei que esta é uma posição muito apetecível por todos países em terem preparadores físicos. Uma posição internacional é sempre muito importante para o país. Pretendo continuar com o mesmo empenho, dedicação e responsabilidade de forma a estar lá mais tempo.  

Existem outras posições que desempenhe no mundo do desporto?

Sou o coordenador nacional dos centros de treino da FPF desde 2006, isto é, sou responsável por todos os planos de formação a nível físico. Neste sentido, não posso deixar de falar nas condições de treino que o Conselho de Arbitragem tem criado no país, são fantásticas. Existem dois polos profissionais no país, na Maia e em Odivelas, existem seis centros de treino patrocinados pela FPF e existem centros de treino por todas as associações distritais, onde por exemplo o Luso é um dos centros de treino patrocinado pela FPF e eu sou responsável por este centro de treino.

Então vem regularmente ao Luso?

Sim, todas as semanas, terça e quinta feira. Treino os árbitros das várias associações de Coimbra, Aveiro, Viseu e da Guarda que trabalham mais próximo desta zona. Cada centro de treino tem um preparador físico e um técnico de arbitragem, apesar de já ter alguns anos, esta é uma técnica em que Portugal inovou, pois estamos claramente á frente de outros países.