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João Pega
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Diária

Artigo de Opinião: Luso Teatro Avenida


tags: Ferraz da Silva, Ferraz da Silva Categorias: Opinião sexta, 24 maio 2024

Construído de raiz entre os anos de 1923/1924 por iniciativa de dois emigrantes chegados do Brasil, o Teatro Avenida do Luso iniciou em 1925 a exploração no seguimento de primitivas sessões com lugar na ex cocheira do Soares e no Casino,  e com ambulantes casuais na Casa de Chá. No ano de 1928/29, surge a primeira legislação em Portugal para salas de espetáculos de cinema e o edifício do Teatro foi objeto duma requalificação para a nova lei e, com as primeiras casas  legalizadas no país,  obteve a licença com o nome de Cine Teatro Avenida. Ali se acrescentou às habituais récitas dos grupos cénicos locais a nova arte , a projeção de imagens,  o cinema, mudo e depois sonoro. Foram vários os grupos cénicos que durante anos levaram á cena os dramas, comédias, variedades e vários os artistas amadores que se destacaram no oficio fazendo história local. O teatro estava equipado com as melhores ferramentas da época. Um amplo  palco com poço e urdidura, camarins, fosso de orquestra e uma boa qualidade sonora. Ali se realizavam também bailes e concertos e outras sessões que quer o inverno, quer a época balnear exigiam e sustentavam. Mais tarde, o advento da televisão trouxe o fim do associativismo popular, um predador do movimento cultural de base, pondo um ponto final nos grupos de teatro amador e outras festividades que pertenciam à iniciativa civil. Hoje são produto pago pelo erário publico que mastiga costumes e tradições do culto da nação com ao olhos postos nos votos a alcançar para se manterem no poder. Perante o cenário do povo criador das suas manifestações, não admira que o Teatro Avenida tenha sido fruto de um investimento privado que depois passou por algumas dificuldades,  mas conseguiu manter-se a funcionar várias décadas com cinema, teatro, festas,  sobretudo na época balnear quando passavam filmes dia sim dia não. Entretanto os tempos mudaram e apesar do historial rico que marcou uma época do Luso-Bussaco no turismo nacional, o Cine Teatro ultrapassou o seu tempo, e ao contrário do que fez a Câmara ao comprar o Cine Teatro da Mealhada para o recuperar com o dinheiro dos munícipes, a mesma Câmara comprou o Teatro Avenida e deixou-o cair na ruina que hoje ele é, usando a habitual bitola das duas medidas em relação ás freguesias, ainda que tenham tanta ou mais importância, história ou património, que o sítio onde cai  a receita dos impostos. Casualmente, a imprensa dos últimos dias ressuscita o problema com promessas de restauro, promessas que são palavras onde  não há estudos, projetos, orçamentos , apenas intenções que tem acompanhado o teatro até á ruina total em que se encontra hoje para  se prometer mais uma vez a descaraterização, um tutti fruti que vá servir tudo e todos, cinema, teatro,  desporto, retórica vazia a que nem um PPR que por aí andou abonado de magias, assobiou de longe. Este rol de banalidades já levou á cremação de um quadro de Josefa de Óbidos do sec. XVII que poderia valer cem mil euros e estava esquecido, sem proteção nem seguro, no Convento do Bussaco. Levou também ao garrote final o cedro de São José , uma relíquia da Mata  plantada pelos frades no  ano longínquo de 1646 , pela simples razão de que não foi recolocada a espia que segurava o velho exemplar após um acidente natural que a desligou do pedestal onde vivia calmamente. A mesma curiosidade levou á substituição do edifício de época do Hotel dos Banhos por uma caixote de cimento, a par de uma dúzia de  azulejos , património vendido a privados oportunos.  Resta o velho Teatro Avenida, cheio de história e tradições para a gente de toda a freguesia e uma vergonhosa ruina camarária que mantem de pé paredes mestras, mostrando a arquitetura  dos primeiros anos da arte do cinema nas estruturas construídas então. Exemplar raro no contexto nacional que se pretende transformar num barracão qualquer para fazer umas festas e uns comícios eleitoralistas…. Alterar a arquitetura original é deitar abaixo mais uma arquitetura valiosa, espelho de uma época, uma um povo, um país. Talvez exemplar único no todo nacional , teve um irmão em Ferreira do Alentejo. Destruir o  Teatro Avenida é praticar um crime arquitetónico sobre o património local . Um património único junto às valências termais, hoteleiras, turísticas , de universalidade incontornável, às quais faltam um museu de hotelaria, um parque e estacionamento na zona central, uma funivia da Quinta do Alberto  a Volpeliares, Portas de Coimbra, Cruz Alta, o arranjo da Miralinda  por um arquivo da freguesia , uma entrada digna na Venda Nova , um acesso decente ao Parque de Campismo, apenas algumas estruturas turísticas que a incapacidade camarária desconhece, faz por desconhecer, ou esquece, mas de importância vital.A Câmara da Mealhada tem dado poucos exemplos em matéria de turismo, oxalá desta vez respeite o Luso e a sua gente e não delapide um bem que é de todos nós.  O Cine Teatro Avenida deve ser recuperado na sua traça original e assim reconstruído no interesse na freguesia , do municipio e do país que somos. A Câmara deve aprender a tornear o sapato pelo tamanho do seu pé, a fim de cumprir o seu dever de gestor capaz, sério e correto do que é o bem comum, pertença de um território que paga impostos e não apenas a favor de uma cidade de Carnaval importado do exterior.