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Diária

Ricardo Pimenta o Ilusionista que passou das ruas para o palco


quinta, 21 março 2024

Ricardo Pimenta, ilusionista, 32 anos, natural de Vila Real, mas viveu toda a sua infância na Mealhada. A vida desviou-o desta cidade, mas pretende brevemente voltar à terra que o viu crescer e onde se reconhece como “filho da terra”.

O ilusionista vai estar presente na primeira edição do Bairrada Mágica 2024 - Festival Internacional de Ilusionismo que decorre nos dias 6 e 7 de abril. Este festival de magia, que vai decorrer no Quartel das Artes, irá receber artistas nacionais e internacionais, nomeadamente, David Sousa, Lanydrack e Faty, Manolo, Ricardo Pimenta, Roman Buria. As conferências estarão a cargo de Pedro Lacerda Machado, Kristine Hjulstad, Gael da Silva e Jahn Gallo.

 

Veio viver para a Mealhada porque e durante quanto tempo?

Vim quando era muito pequeno, tinha família na Mealhada da parte do meu padastro e desde então fiquei a viver cá. Estudei até ao secundário, portanto vivi na Mealhada mais de 15 anos. Sei que não sou mealhadense de gema, mas considero-me mais da Mealhada do que vila-realense.

Tenciona voltar a viver na Mealhada?

Sim, tenciono voltar brevemente.

Porquê?

Neste momento vivo em Lisboa, o que é muito bom para eu desenvolver o meu negócio de magia, vivo disto a tempo inteiro, mas há um preço a pagar, já que Lisboa é uma cidade muito caótica e stressante. A Mealhada traz-me uma paz que a capital não oferece.

Tem mais alguma profissão para além da magia?

Neste momento não. Há cerca de 2 anos que sou mágico a full time, como tenho tido muito sucesso consigo viver apenas deste ofício.

Qual era a sua profissão antes de ser mágico a tempo inteiro?

Trabalhava numa empresa de arte em mármore e fazia magia em part-time. O gosto pela magia cresceu tanto que comecei a delinear uma estratégia para trabalhar a tempo inteiro na magia e consegui.

Como e com que idade começou o gosto pelo mundo da magia?

Tinha cerca de 22 anos, ou seja, há cerca de 10 anos. O gosto pela magia começou por causa do Kenpo Karaté. Sou aluno do José Mota, ele tem uma escola desta arte marcial aqui na Mealhada, eu foi um dos primeiros alunos dele, cheguei a ser cinto negro e ajudei-o a dar aulas. Um dos meus alunos é que me mostrou um truque e me fez ver que o mundo da magia é enorme, algo que a maioria das pessoas não faz ideia.

Na sua opinião, qual é a visão que os portugueses têm da magia?

Em Portugal infelizmente não é uma arte que se assista com frequência como quem vai ver um show de música e têm uma ideia redutora, que sei que não é por mal, mas há uma ideia redutora que a magia se resume a pombas e coelhos e pouco mais, mas não, há muito mais que isso. Há ainda uma parte teatral, há espetáculos em que existe mais poesia do que magia e uma enorme variedade de situações que se podem representar em palco.

Ainda treina Kenpo Karaté?

Sim, mas não com tanta regularidade.

Quando regressar à Mealhada vai voltar à escola onde foi cinturão negro?

Quero voltar aos treinos já que vou voltar para perto do meu mestre José Mota.

Existe algum tipo de formação para magia?

Sim, curiosamente até trago vestida uma t-shirt de uma academia em que fiz formação (risos). Não é obrigatório, eu comecei a frequentar academias e conferências, sobre como pisar um palco, como lidar com espetadores comecei a perceber que isso representa 80% de uma boa performance. Estas formações são esporádicas, por exemplo vem um mágico do estrangeiro a Portugal e realizam uma conferência sobre cartas, ou sobre como improvisar.

Qual foi a sua maior inspiração ou influência no mundo da magia?

David Sousa, que curiosamente vai fazer parte do Festival Bairrada Mágica. Pela primeira vez vou pisar o palco com ele. O Diogo Sousa é vice-campeão mundial de FISM (Federação Internacional de Sociedades Mágicas), é um orgulho para a comunidade portuguesa, não só pelo título que tem, mas também pela pessoa que é. Ele faz magia na categoria de manipulação, ou seja, é magia sem caixas e faz aparecer e desaparecer coisas, mas de uma forma muito bonita. A primeira vez que me mostraram o trabalho do David Sousa comecei a chorar e percebi que era algo extraordinário. Neste encontro do Bairrada Mágica vou estar com ele, já o conheço e já temos alguma confiança, mas esta é a primeira vez que vamos trabalhar juntos.

Já fez atuações no estrangeiro?

Sim, num programa de Erasmus, em que me convidaram para ser um Energizer, ou seja, tinha como objetivo levantar a moral e a energia dos grupos de Erasmus através de atividades. Eu tinha duas ferramentas para usar, as artes marciais e a magia. Foi então onze dias a Zakopane, na Polónia, onde tive a oportunidade de fazer magia não só para polacos, mas para pessoas de várias nacionalidades da Bulgária e da Roménia. Aproveitei e foi para Cracóvia fazer magia de rua para sentir o ambiente daquela cidade, já que eu fiz magia de rua em Portugal no contexto mais turístico.

Em que cidades portuguesas fez magia de rua?

Comecei nas ruas turísticas do Porto, vi que não era assim tão mal e dá para ser bem-sucedido nessa vertente, causa mais pressão por estar a expor algo na rua. Mas percebi que isso me deu experiência porque quem faz um show para desconhecidos na rua também enfrenta bem um palco com 200 ou 300 pessoas.

Ainda faz magia de rua?

Não, neste momento tenho agenda para eventos privados e outros nichos mais compensadores. 

Que eventos privados são esses?

Casamentos ou então eventos corporativos, em que é o magico que se desloca ao local e faço magia de close up que é o que faço mais.

Já esteve na TV, em que contexto?

Já estive na Praça da Alegria cerca de quatro ou cinco vezes. Participei no concurso “Temos Artista” onde cheguei à semifinal, em 2020 cheguei de igual forma à semifinal do Got Talent, foi uma experiencia interessante, lembro-me que foi dois meses antes do confinamento.

 Quando participou, foi iniciativa própria ou alguém o incentivou?

Curiosamente eu queria ir, mas ainda não era naquele ano, porém o convite chegou por parte da organização do programa e não neguei o desafio. Eu tinha um truque muito peculiar em que fazia magia com hamsters, fazia aparecer 4 hamsters e no programa este truque foi um sucesso.

“Criador do Magic Hamster, como começou?

Quando decidi experimentar magia de rua não queria ir com o truque mais antigo do mundo o cups and balls (com três copos fazer aparecer bolas), queria uma versão minha e decidi fazer com hamsters. São animais higiénicos, sossegados e mansos, experimentei, investi, estudei sobre estes animais e fiz muito sucesso. Hoje me dia já não faço magia com animais porque hoje em dia há uma maior sensibilidade para trabalhar com animais.

O que representou para si a título profissional e pessoal a participação nestes programas?

Muita gente me pergunta isso, porém participar na televisão não significa que tenhamos trabalho direto, mas para o currículo é muito importante, ajuda nas probabilidades de alguém me contratar.

Quais são os desafios mais comuns que enfrenta ao realizar truques de magia?

As pessoas têm um fraco termo de comparação de magia, mas a culpa não é delas. A magia não é muito comum e é muito fácil vender fraca magia a um espetador. Existe uma frase que diz: “o segredo oculta a mediocridade do mágico”, ou seja, se eu fizer um truque de cartas vocês acham que é uma coisa incrível, mas não é algo muito básico. A forma de apresentar é muito importante.

As pessoas perguntam como faz os truques de magia?

Sim, perguntam várias coisas. Já pensei em andar com umas previsões nos bolsos sobre o que as pessoas dizem ou perguntam, a mais frequente é como os posso ajudar a ganhar o Euro Milhões. Respondo o que as pessoas não esperam, uso a psicologia invertida, (risos). Tento sempre brincar com as pessoas para que se divirtam.

Quais são os elementos essenciais para criar uma performance de magia que prenda a atenção do publico?

Tento conhecer sempre o tipo de público que tenho à frente, elogio de forma subtil o meu público.

Como soube do evento Bairrada mágica?

Participei no Oiã Magico na edição anterior, este ano, chama-se bairrada mágica, e foi convidado pela organização.

O que significa para si partilhar o palco com mágicos reconhecidos internacionalmente?

Representa uma sensação de conquista, quando comecei tinha muitos familiares que tinham dúvidas sobre o meu percurso e para mim significa muito.

O mágico já conta com 10 anos de carreira e algumas conquistas em festivais de Ilusionismo (MagicValongo, VIMagia, Chavesmágico, etc.), também participações televisivas, uma das quais o "Got Talent Portugal 2020", onde alcançou a semifinal, e "Temos Artista" da RTP com o mesmo resultado. Foi também premiado com um 3°lugar num concurso do São João Bosco, nos fenianos Portuenses, em 2016.