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João Pega
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Diária

Dito e... Escrito


quinta, 19 setembro 2019

“…O PAN é um partido simpático, é difícil não concordar com a maioria das suas propostas ambientais e não duvido que seja constituído por muita gente de convicções e esforço. Mas a leitura do seu programa eleitoral, amplamente dissecado esta semana, prega-nos bons sustos. A proposta (entretanto emendada) onde o PAN previa a obrigatoriedade de reconciliação (em sessões semanais) entre criminoso e vítima (ou seus familiares) em crimes violentos, está longe de ser apenas um lapso ou erro grosseiro. É uma aberração. Corresponde a uma visão animalesca da vida onde o Homem pode ter um mundo de regras e possibilidades que o PAN nunca admitiria aplicar a animais. O PAN tem apenas uma década de história mas a sua falta de posicionamento ideológico acaba por tornar transparente a impreparação para alavancar verdadeiras mudanças estruturais em política.”

Miguel Guedes – JORNAL DE NOTÍCIAS

 

“…A maioria de portugueses que parece inclinada a dar uma maioria ao PS é a mesma maioria que não vê vantagens numa maioria absoluta. Confirmando-se esse dilema, a grande questão para dia 6 é saber até onde os portugueses racionalizam inteiramente o seu voto Rui Rio saiu do palco principal destas legislativas por tudo isto, também por deixar que transpareça que quer prometer tudo sem assumir opções difíceis. A ideia de falta de consistência, de ausência de mensagem que o PSD hoje passa já seria mortífera. Mas Costa fez questão de lhe dar um empurrão final quando fez do Bloco o seu principal adversário. Como quem diz ao eleitorado do centro-direita: isto é entre o PS sozinho e uma nova geringonça. Não admira que, perante esse cenário, os empresários queiram ouvir António Costa – e deixem o líder do PSD a falar sozinho.”

David Dinis – EXPRESSO

 

“…Efetivamente, como diz Torga, «Somos nós que fazemos o destino». E fazemo-lo quando não nos deixamos ficar de braços cruzados, quando nos lançamos na vida como quem parte para uma aventura, em busca de um ideal que, para nós, desenhámos, rumo a uma vida que queremos viver, determinados a conquistar os nossos sonhos. É por esse motivo que o Velho do Restelo diz que Deus não nos dá as nozes. E assim é, na realidade. Deus dá-nos os dentes, dá-nos a nogueira, e dá-nos a coragem, o alento, a força de vontade para viver, mas as nozes, essas, somos nós que as conquistamos ou não.”

Maria Eugénia Leitão – O SOL

 

Há quem critique a União Europeia por não ser mais incisiva nas palavras que dirige a Boris Johnson. Nessa perspetiva, de que fogo se combate com fogo, a UE deveria ser menos silenciosa e convidar o Reino Unido a sair sem um acordo. “No ifs or buts”.

A UE parece estar a ser cínica e calculista. Desde logo, observa a forma como as instituições britânicas se vão enterrando no pântano e como a economia sangra diariamente com decisões adiadas e incertezas. A UE simplesmente vai deixando que a situação se deteriore. Resguardada numa exigência plenamente justificável e politicamente correta – o backstop – a UE não aparece como o “mau da fita” e o Reino Unido, dividido e enfraquecido, mostra a todos como é difícil sair da União. Naturalmente, a UE tem muito a perder, mas será ainda pior se for criado um manual de instruções funcional para a saída de um país.

Filipe Garcia- O JORNAL ECONÓMICO

 

“…Se eu tivesse que escolher a data mais negra da história da democracia portuguesa, seria 10 de Outubro de 1999. Desde esse dia, o espaço público, que já foi mais livre, mais leve, mais divertido, tem vindo a tornar-se cada vez mais intolerante, mais policiado, mais claustrofóbico. O esforço de compreensão deu lugar à ânsia de compressão. Onde antes se tolerava discutir a morte de Deus, hoje não se tolera sequer abordar os padecimentos da Segurança Social. Onde antes padres jesuítas convidavam alunos a ler e discutir Ludwig Feuerbach, hoje sacerdotes jacobinos intimam juízes a criminalizar (e directores de jornais a silenciar) Fátima Bonifácio. Ontem éramos encorajados a descobrir refutações para capítulos profundamente blasfemos, hoje somos atiçados a fantasiar punições para parágrafos vagamente controversos. O politicamente correcto é apenas o nome politicamente correcto que chamamos, desde então, a esta crescente claustrofobia antidemocrática.”

Miguel Granja - OBSERVADOR